#01
lampejo é luzinha miúda. faísca de um clarão maior. um brilho discreto e forte, que não serve muito pra coisa nenhuma. uma coisa assim: sem importância. coisa que não existe pra iluminar ou esquentar. aparece como um detalhe quase inútil e invisível. um cintilar.
tilintar na cabeça, entre epifania e confusão.
eu me pensava fogueira. áries com leão. aperto de mão forte. o santo bate ou capota, mas não breca. sobravam cinzas depois. outras vezes, faltava era lenha pra combustão. rápido acabava o meu são joão. explodindo em tons de laranja e vermelho, reduzindo a matéria.
e veja, que lampejo é mais rápido ainda, porque vem do inesperado. do brilho que as bijuterias baratas têm. do polimento da prata velha. realce. lampejando trovões de iansã que rasgam o céu em duas metades. um primeiro fiapo de luz da lamparina acesa com querosene. aquele cheiro de coisa química que dá água na boca e vontade de baforar.
a gente muda mesmo, mas tem coisa que nunca se muda da gente.
essa vontade de escrever. eu quero ser alguém que! escreve. e vai. narrando. vez ou outra um lampejo maior, que, pode ser, vire incêndio.